domingo, 10 de abril de 2011

Noite de Feriado



Vultos fortuitos
Erigidos na plataforma
De fatos perpétuos
Excitam extintos
Desejos profanos
Na pele eriçada
De vincos da vida.
Corro rua adentro e
Vejo o nada grotesco
Na escuridão constante
Que convida à convulsão
De sentimentos abruptos
Tesos e latejantes
Na noite montesclarence
Póspsiupoeticamente
Loucamente iminente
No corpo psicodélico
Do homem descontente
Que busca a sina da vida
Milimetricamente sentida
Em tensos atos macabros e
Rentes encontros nos muros
Dos becos da rua estreita
Que espreita o mais doce corpo
In.dis.cre.ta.men.te


Autor: Lauro Sérgio Machado Pereira

sexta-feira, 8 de abril de 2011

Filme dinamarquês "Em um Mundo Melhor" aborda a questão da violência


Prezados leitores,

          Vai parecer até estranho, mas uma coincidência aconteceu comigo nesta semana. Anteontem estava eu a assistir o filme dinamarquês "Em um Mundo Melhor", ganhador do Oscar de Melhor Filme Estrangeiro deste ano e que trata da questão da violência como um círculo vicioso e me peguei a pensar sobre muitas questões da humanidade e dos sujeitos sociais juntamente com suas psicoses. O filme apresenta duas famílas cujos componentes passam por situações de violência diferentes quanto aos níveis e contextos sociais. A cena que mais me deixou comovido foi uma na qual um garoto vindo da Inglaterra, aluno de uma escola na qual havia chegado um outro garoto novato e estrangeiro filho de um pai médico, passa a sofrer bullying por um dos meninos da escola. O certo é que aquele vindo da Inglaterra não deixa barato e ameaça o praticante do bullying com uma faca. É nítida a sede de vingança no olhar do menino. Fui dormir pensando nisso tudo.
          No dia seguinte, quando cheguei no trabalho, em algum momento uma das minhas colegas comentou se eu havia lido na internet sobre a tragédia que acabara de acontecer no Rio de Janeiro. Naquela hora fiquei até arrepiado e certamente lembrei-me do filme visto no dia anterior. Como poderia ser aquilo. Uma barbárie humana. Por outro lado, como bem discuti com meus colegas a partir das leituras de Michel Foulcaul e Gilles Deleuze, o ser humano tem uma linha muito tênue entre o mundo da louco onde o fluxo é muito intenso e o mundo marcado pela seguimentação. Pra o homem ultrapassar essa linha tênue é muito fácil. Podemos dizer que de fato o mundo torna-se cada vez uma enorme selva de homens que não têm nada de humano, mas de bárbaro.
          Voltando ao filme, encontrei três críticas que pontuam que o filme "Em um Mundo Melhor" provoca, mas nem tanto. Na verdade, a prposta do filme é muito feliz, mas o desfecho deixa a desejar.
          Para que vocês tirem suas conclusões, posto aqui as três críticas na íntegra.


"Em um Mundo Melhor" conta história moralizante

Ganhador do Oscar e do Globo de Ouro de melhor filme em língua estrangeira, o dinamarquês "Em um Mundo Melhor", de Susanne Bier, se insere na tradição dos premiados nessa categoria: pouco reflete sobre o cinema fora dos Estados Unidos, mas muito ressoa junto aos interesses dos norte-americanos.
Temas como bullying, sentimento de culpa europeu diante do 3o Mundo e famílias problemáticas agradam bem ao gosto dos votantes da Academia de Ciências e Artes Cinematográficas, que deixam de lado filmes de maior valor artístico, como o argentino "Abutres" e o tailandês "Tio Boonmee que Pode Recordar suas Vidas Passadas", este último ganhador da Palma de Ouro em Cannes 2010.
A diretora dinamarquesa Susanne Bier ("Depois do Casamento") volta à sua terra natal depois de uma fraca incursão no cinema norte-americano com "Coisas que Perdemos pelo Caminho" (2007). Seu novo trabalho, cujo roteiro é assinado pelo seu colaborador frequente Anders Thomas Jensen, cruza a história de duas famílias consumidas pela culpa e o distanciamento. O longa estréia em São Paulo e Rio de Janeiro.
"Em um Mundo Melhor" faz um paralelo entre dois países: Dinamarca e Quênia. Anton (o sueco Mikael Persbrandt) é um médico dinamarquês que viaja frequentemente à África para cuidar de mulheres que foram brutalmente atacadas por um chefão local. Em casa, ele tenta recuperar o amor de sua mulher, Marianne (Trine Dyrholm), e a confiança do filho, Elias (Markus Rygaard).
A outra família é a de Claus (Ulrich Thomsen), viúvo e pai omisso que volta da Inglaterra para a Dinamarca com o filho pequeno, Christian (William Johnk Nielsen), depois da morte da mãe do menino. A vida dos dois garotos vão se cruzar quando Elias é humilhado por outro menino na escola e Christian decide tomar as dores. A reação é violenta e inesperada, surpreendendo especialmente o pai. O menino revela-se um garoto vingativo, cujo comportamento coloca em risco a vida não apenas do amigo, mas também de desconhecidos.
O retorno de Anton para casa o aproxima do filho, que passa a ver as atitudes do pai com outros olhos - especialmente influenciado pelas tendências do novo amigo. Elias e Christian passam a resolver qualquer tipo de problema usando violência. No Quênia, há um paralelo das ações do médico e das crianças. Mais tarde, Anton terá a chance de acertar as contas com o chefão da aldeia local, quando este precisa de sua ajuda.
Susanne e seu roteirista armam uma história moralizante cujo questionamento maior é: devemos oferecer a outra face para o inimigo? A resposta, como é de se esperar, não é simples e envolve muita discussão - mas o filme é um tanto simplista em sua resolução, exagerando nas manipulações emocionais e narrativas. A ideia vendida por "Em um Mundo Melhor" é que as pessoas retribuirão, tanto o bem, quanto mal, na mesma moeda. Então, por que não fazer apenas o bem? Num mundo ideal, isso seria perfeito - mas o nosso está muito longe disso.

(Por Alysson Oliveira, do Cineweb)



Dinamarquês 'Em Um Mundo Melhor' provoca, mas nem tanto

Carol Almeida

Cena de "Em um Mundo Melhor".

           No caminho da violência, costumamos descobrir onde ela termina, mas dificilmente identificamos de onde ela parte. Sua gênese é um dos grandes mistérios no comportamento subjetivo do homem. A contribuir para a extensa literatura dedicada a buscar as várias nascentes desse mal que acomete a humanidade desde o início dos tempos, Em um Mundo Melhor, filme dinamarquês indicado ao Oscar este ano (e um dos grandes favoritos), consegue criar uma história simples que, filmada com uma inicial ponderação, descasca a lei da ação e reação que se constrói dentro da cabeça de qualquer um que ache na violência a resposta mais fácil. Uma pena apenas que, depois de captar bons momentos dos atores em um roteiro que vai bem na contenção das palavras, o filme termine cedendo a uma lição de moral daquele tipo que cresce com o sobe som da trilha sonora.
          O novo trabalho da diretora Susanne Bier é hábil em acompanhar essa natural germinação do ódio em uma criança, mas falha ao tentar dar uma tarefa de casa no fim daquilo que termina em tom de aula. Responsável por outro filme igualmente delicado com as fraquezas do ser humano, Depois do Casamento (2006), e por uma produção made in Hollywood um pouco mais propensa a ensinamentos morais, Coisas que Perdemos pelo Caminho (2007), Bier teve a chance de criar uma história que poderia dar a cara a tapa. Até tenta fazer isso, literalmente, em uma importante e reveladora cena. O problema é ver que houve uma clara preocupação do filme em afagar esse mesmo rosto doído, transformando toda aquela mutação da raiva em guerra numa fábula amena que escorrega no lugar comum do homem herói/Paz Mundial.
          Certamente o espectador não entra desavisado, afinal de contas, estamos diante de um filme cujo título no Brasil se chama Em Um Mundo Melhor. O horizonte dourado de boas promessas vem no pacote. No entanto, bem antes desse momento de consolo, o título dinamarquês nos estapeia com personagens muito bem construídos, cujas histórias se cruzam a partir de dois meninos. Christian (William Jøhnk Nielsen) e Elias (Markus Rygaard) se conhecem em um colégio na Dinamarca e são teoricamente bastante distintos de berço: Christian é filho de uma família rica e morava em Londres até a morte de sua mãe. Elias é sueco, filho de médicos que estão se divorciando. O laço entre eles surge da empatia dos excluídos.
          Constantemente ameaçado na escola por ser estrangeiro, Elias não se defende. Christian, com pompa de menino de colégio interno, toma as dores de Elias e se projeta como macho alfa ao ameaçar o aluno mais violento da escola com uma faca. Essa briga entre meninos, antes de ser a origem, é na verdade o disparo para sentimentos frustrados de Christian em relação à morte de sua mãe e à conivência de seu pai, que a partir daí vão ganhando corpo de monstro em um raciocínio viciado que, você acompanha, não pode terminar bem.
          Esse núcleo infantil, no entanto, está longe de ser o grande trunfo do filme. Os personagens adultos, ora por cegueira, ora por serem inábeis, não conseguem represar a lógica orgânica do ódio cujo estopim se dá no momento em que o pai de Elias recebe um tapa de outro homem. E não reage. A cena é acompanhada pelos dois meninos. Anton (Mikael Persbrandt) é o médico paz e amor dessa história e, não fosse pelo cuidado do roteiro em pontuar que ele está se separando da mulher porque a traiu, facilmente poderíamos ver nele um novo messias da não-violência.
          O personagem de Persbrandt (ator que está confirmado no elenco dos dois filmes de O Hobbit) é aquele filmado quase sempre na luz ensolarada dos novos tempos. Médico que faz ponte aérea Dinamarca-África, sua conduta discreta e correta é o contraponto à violência que nasce naturalmente em Christian. Um é a humanidade, o outro a sociedade. E nem uma, nem outra podem ser julgadas à luz de nossas ideologias. Lamentavelmente, Em um Mundo Melhor termina fazendo esse serviço de juiz na prorrogação do segundo tempo. E elimina todo o interessante e benéfico desconforto que o filme provoca na sua premissa.



Em um Mundo Melhor | Crítica

Mal-estar de Susanne Bier com os dramas eurocêntricos entra em metástase


          "É assim que as guerras começam", diz o pai depois de buscar na escola o filho que caiu na provocação do bullying. Isso que parece uma caricatura de sermão - as reações sempre exageradas dos adultos - no cinema da diretora dinamarquesa Susanne Bier é perfeitamente normal. Para ela, as guerras de fato começam assim.
          E a guerra virou uma obsessão. Recentemente, Bier tocou no assunto de forma mais direta em Brothers, e hoje, assaltada por uma grandiloquência (ou uma culpa burguesa), ela parece não conseguir mais fazer pequenos melodramas sem antes contextualizá-los geopoliticamente. Mais do que nunca, há algo de podre no reino da Dinamarca. A consciência tem pesado.
          Em um Mundo Melhor parte, assim como Depois do Casamento, de uma cena terceiro-mundista para só depois ambientar a trama na Europa. Estamos em uma nação africana em guerra civil, onde o médico sem fronteiras sueco Anton (Mikael Persbrandt) tenta salvar meninas esfaqueadas e violentadas pela facção criminosa dominante. Anton, como bom médico, não julga as pessoas que atende - não lhe cabe fazer justiça.
          Mas Anton se vê diante de uma situação delicada quando, de volta para a sua casa, na Dinamarca, descobre que o seu filho e o novo amigo dele se vingaram do bullying do colégio de forma agressiva. Dizer que violência só gera violência não basta, e posar de bom moço que dá a outra face também não adianta. As crianças estão decididas a consumar, também em outros aspectos do seu dia a dia, essa descoberta satisfação de revidar.
          Como Susanne Bier nunca foi uma diretora de meias palavras, perdoa-se o seu exagero quase irresponsável de comparar a realidade cruel de um fim de mundo africano com as questões rotineiras dos belos loiros suecos e dinamarqueses. O que torna Em um Mundo Melhor insuportável não são as cenas na África, mas a tentativa constante de enxergar em tudo aquilo que se move na Europa sintomas das doenças gerais da humanidade.
          Então, no filme, se a avó do garoto diz inocentemente que "já instalamos internet no seu quarto", ferrou. Internet é a porta do mal. Se o avô guardava fogos de artifício no galpão, boa coisa não há de vir. Se os pais se separam, é um futuro apocalíptico que espera qualquer criança. E se as crianças gostam de passar a tarde no terraço de um edifício precário, então daí já viu. Em um Mundo Melhor é o filme da vida de quem decide educar os filhos em casa e não na escola. Em casa tudo é fotografia saturada, espreguiçadeiras à beira do lago e muitos abraços paternais.
          Se pretendia colocar os seus personagens em um contexto complexo, e dar conta dos dramas mais variados, como o luto ou a rixa entre nações, o filme só consegue isolar e esvaziar esses personagens e esses dramas. O medo venceu, enfim. O mal-estar de Susanne Bier com o mundo entra em metástase.


Confiram algumas imagens do filme!

Elias (Markus Rygaard) e Christian (William Johnk Nielsen).

O casal Anton (o sueco Mikael Persbrandt) Marianne (Trine Dyrholm).

Susanne Bier recebe o Oscar de Melhor Filme Estrangeiro deste ano.

Confira também o trailer do filme!