sábado, 5 de fevereiro de 2011

Cisne Negro: A dualidade da alma humana


Darren Aronofsky, diretor de filmes como “Réquiem para um Sonho” (2000) e mais recentemente “O Lutador" (2008), nunca havia penetrado tão bem na psicose humana como fez em seu último trabalho “Cisne Negro – Black Swan” (2010). O filme pode ser classificado como um thriller de suspense recheado de nuances e dramas pessoais no qual a personagem principal, “Nina Sayers” (belissimamente representada por Natalie Portman), uma bailarina que acaba de receber o cobiçado papel principal do balé “Lago dos Cisnes”, luta contra seus fantasmas e delírios.
O papel exige da intérprete que o executa não só perfeição técnica, o que Nina certamente domina, como uma dualidade psicológica avassaladora. Aparentemente, sua natureza frágil e tímida, na qual toda sensualidade e agressividade estão severamente reprimidas, só encontra as chaves para interpretar a virginal princesa Odete, o Cisne Branco. A Odile astuciosa e pérfida, o Cisne Negro, resta oculta e dormente, em algum ponto perdido de sua psique, que ela precisa desesperadamente despertar.
É fantástica a viagem a que nós expectadores somos convidados a fazer pela mente de Nina, uma bailarina frígida e reprimida que teme a possibilidade de se entregar emocionalmente nos palcos. Vale lembrar que o diretor já nos presenteou com uma viagem dessas em “Réquiem para um Sonho” no qual ele trata dos vícios da humanidade como o uso de drogas alucinógenas e até mesmo a assistência exagerada à televisão.
Para representar a atriz talentosa e dedicada, Natalie Portman supera não poucos obstáculos, inclusive físicos, para interpretar solidamente esta Nina trágica, que desperta piedade e medo quase ao mesmo tempo. A atriz rompe suas fronteiras e sua imagem, não hesitando numa cena de masturbação, nem em outra de sexo lésbico - que, na verdade, são as que menos impressionam.
É quando traduz a dualidade extrema desta mulher fraturada que não encontra sua síntese que Natalie exprime o melhor de sua arte. Seu sofrimento transpira humanidade, força, demência, amargura, e a impressionante solidão ao ir até um lugar onde absolutamente ninguém pode segui-la.
Ao seu lado, um competente quarteto de atores contribui decisivamente para o resultado: o francês Vincent Cassel ("À Deriva"), na pele do diretor da companhia que a pressiona e quer conquistá-la, sem decifrar seu tumulto interior; sua mãe (Barbara Hershey), que procura criar um halo de proteção para sua criatura, mas exagera na dose; sua colega e rival, Lily (Mila Kunis, "O Livro de Eli"), que funciona como um contraponto da jovem sensual e livre que Nina não sabe ser. E Beth McIntyre (Winona Ryder), a assustadora veterana que a precedeu no papel e enlouquece quando tem de aposentar-se da companhia - prenunciando um sombrio futuro para as bailarinas mais velhas.
Sem a fotografia contrastada de Matthew Libatique e a montagem áspera de Andrew Weislum - ambos indicados ao Oscar -, este pesadelo barroco jamais poderia completar seu espectro. Se "Cisne Negro" passa como um turbilhão, certamente, é porque todos estes componentes se ajustaram da maneira mais consistente. Darren Aronofsky parece estar no melhor de sua forma e poderia, sim, conquistar este ano seu primeiro Oscar como diretor.
O filme está concorrendo a cinco prêmios da academia: Melhor Filme, Diretor, Atriz Principal, Fotografia, e Edição. Entretanto, penso que ele deve levar somente o prêmio de atriz, uma vez que o Oscar sobre algumas pressões. Mesmo assim, não custa nada torcer por ele. Para falar a verdade ele é um dos melhores filmes que vi este ano.
(Adaptado por mim a partir do texto de Neusa Barbosa, do Cineweb)

Confiram o trailer do filme e dêem suas opiniões!
Obs.: Não se esqueçam de votar na enquete sobre qual filme merece o Oscar este ano.

2 comentários:

  1. Este filme é execelente. Uma das coisas que mais me chamou a atenção nele foi o fato de as pessoas fazerem de tudo para conseguirem o que querem.
    A luta psicológica da personagem principalmente em tentar ser alguém que não é, de ir ao contraste de seus valores para viver uma vida que nunca sonhara em viver antes para a então idade que tinha... é muito instigante.
    A busca do reconhecimento, de ser "melhor" do que os outros, faz com que o ser humano faça qualquer coisa para chegar ao topo. Mas, no final, será que é isso que importa? Será que ultrapassar valores, crenças, vale mesmo apena para ter um "reconhecimento"?
    Acredito que Natalie Portman ganhará o oscar de melhor atriz, mas, se isso não acontecer, tenho certeza que ela estará muito orgulhosa de si pelo belíssimo trabalho que fez.

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  2. Olá Ana!

    "Cisne Negro" mostra muito bem como é a personalidade humana. Muitas pessoas, deixam se levar pela vontade de conseguir sucesso em tudo, em ser melhor e superior em tudo que até passam por cima dos princípios´, da moral e da ética. Como bem explica Lya Luft em seu texto "A Sordidez Humana" publicado em Veja (http://veja.abril.com.br/200509/p_024.shtml),o ser humano possui um anjo e um porco dentro de si e muitas vezes o porco é tão grande e desproporcional que é necessário controlá-lo para que ele não o domine. A sordidez, a felicidade perante a desgraça alheia, segundo a autora é algo que está altamente na moda. Portanto, "Cisne Negro" só veio a calhar!

    Abraço!

    P.: Leia o texto da Lya Luft e me fale o que achou.

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