sexta-feira, 4 de fevereiro de 2011

Algumas sessões de cinema marcam nossas vidas para sempre!




O cinema, por ser uma arte que mescla várias linguagens como a fotografia, a música e a escrita, só para citar algumas, tem um poder significativo múltiplo capaz de atingir muito imediatamente os seus objetivos comunicativos. Trata-se de uma linguagem quase que auto-explicativa. É por isso que quando se assiste a qualquer tipo de filme, até mesmo àqueles classificados como medíocres pelos grandes críticos de cinema, é impossível finalizar sua assistência sem pelo menos ter obtido qualquer informação significativa ou sentido qualquer emoção.
Já ouvi muitos experts no assunto dizerem, inclusive roteiristas, que o verdadeiro bom filme é aquele que cativa o expectador nos primeiros dez minutos de projeção. Outros dizem que o bom filme é aquele que faz o expectador rir ou chorar. Como se pode perceber, o cinema está muito ligado à emoção. Entretanto, não me refiro às falsas emoções, às representações que a sociedade contemporânea é preparada para reproduzir a partir dos padrões preestabelecidos. Refiro-me às emoções reais, ao que é sentido aqui e agora, sem a vergonha de ser feliz com a realidade alheia. Esta é para mim a grande magia do cinema e que tem encantado plateias há muitos e muitos anos.
Com relação à emoção no cinema, sinto-me quase na obrigação de mencionar uma fantástica experiência que tive ainda no início do ano de 2009 quando estive no cinema para assistir a "A Troca", um dos últimos filmes do grande diretor Clint Eastwood e estrelado por Angelina Jolie e John Malkovich. Lá estava eu sentado sozinho como de costume em uma das poltronas no fundo da sala (na maioria das vezes vou ao cinema sozinho), quando passados mais de sessenta minutos de exibição, senti-me compelido a virar-me para o meu lado esquerdo e observar uma senhora que estava acompanhada com uma adolescente que possivelmente deveria ser sua sobrinha. Tive minha atenção roubada pelo suave som de seus soluços incontroláveis e pelas lágrimas que escorriam pelo seu rosto. Tudo isso era seguido pelo som de sua voz dizendo "Ah, meu Deus! Não façam isso com ela...", ao dialogar com alguns homens que maltratavam a personagem da mãe que teve o seu filho sequestrado e assassinado no filme. Foi algo realmente fantástico que nunca havia presenciado antes em toda minha vida. Uma expectadora chorando e ao mesmo tempo enxugando suas lágrimas com um lenço que trazia em sua mão. Na verdade, ela era uma expectadora que se deixou ser conduzida tão intensamente pelo filme o qual obteve total controle sobre ela. A realidade da sala de exibição deixou de existir para dar espaço à outra que estava ali representada pela projeção. Tudo era tão intenso que a expectadora dialogava com o filme como se ele fosse real. Ironicamente, enquanto observava o filme, mal sabia ela que estava sendo observada por mim.
Penso que aquilo que aconteceu com a expectadora em questão representa muito bem o verdadeiro sentido do filme. Atingir emocional e significativamente os seres humanos para enfim poder transformá-los em seres melhores. A partir de então, passei a observar bem discretamente o comportamento das pessoas em geral no cinema. Às vezes, é muito interessante e louco ser um pouco voyer no cinema, mas quem não o é no momento em que assiste a um filme? Para gostar de cinema é preciso primeiramente se dispor a sentir prazer como alheio.
Partindo desses relatos, que tal vocês também postarem suas experiências sobre uma sessão de cinema diferente que você experimentou? Está lançado o convite! Aproveitem!

Vejam o trailer de "A Troca" e/ou acessem o site oficial do filme. http://www.changelingmovie.net/!


4 comentários:

  1. Muito bom o blog amante do cinema.
    Virei sempre aqui para pegar dicas.

    Abraço

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  2. Olá Lauro!
    Vou postar aqui um texto que escrevi após ler "Psicologia em curta-metragem" de Jacob Goldberg.
    Psicologia em Curta-Metragem

    Não sei se o magnífico Dr. Jacob Pinheiro Goldberg escreveu um livro ou produziu uma impressionante obra cinematográfica. Ainda não consigo organizar meu pensamento após passar por esse Tsunami psicológico que instiga, polemiza, esclarece, ensina e finalmente, mesmo depois de um turbilhão de possibilidades, te dá um norte.
    Um mix de drama, romance, documentário, ação, poesia e muito mais parecem ter dado vida à essa brilhante obra que levou-me a repensar a vida, minhas crenças, paixões, mitos, motivações, frustrações, etc. Senti-me ousadamente deitada naquele divã VIP.
    Confesso que ensaiei a leitura algumas vezes e temi ir adiante. Razões? Pelo menos uma: Conseguiria eu captar aquela mensagem feita por e para gente grande? Não só captei (talvez não a mensagem objetivada na obra, mas aquela que eu precisava), como Psicologia em Curta-Metragem doravante tornou-se meu coffee table book. Pobre de mim que achava que tantas coisas eram simplesmente inexplicáveis, ao lê-lo, vislumbrei a possibilidade de entender assuntos que nunca antes ousei aprofundar.
    Convidada para uma sessão de cinema há uma semana atrás, logo quis saber qual era o filme, roteiro, críticas e tudo mais. Indaguei-me como entraria e como sairia da minha primeira sessão de cinema após Psicologia em Curta-Metragem. “Eu, meu irmão e nossa namorada” parecia uma daquelas comediazinhas americanas que à olhos nus, só visa o entretenimento e provocar risos na platéia, não trazendo assim qualquer malefício nem tampouco benefícios à nossa vida real. Entretanto lembrei-me o quão “naive” (não sei porque gosto mais dessa palavra no inglês do que no português para falar de ingenuidade, talvez pela pronúncia com stress no i) costumava me colocar frente essas produções com objetivos que iam além do fazer rir. Lembrei-me também que segundo o Dr. Jacob, eu deveria negar ou aceitar aquela mensagem. Eu e somente eu poderia dirigir aquele filme.
    Passado algum tempo de filme, ouvi uma voz ao longe comentando: “Nossa! Essa foi demais, não acha Vanessa?” Não vinha de tão longe assim, era um de meus amigos do lado fazendo comentários sobre as cenas. Presumo que aquele não fosse o primeiro, entretanto não me lembrava de nenhum outro e estava perdida no meio do filme, tentando me achar em minha própria vida. Definitivamente eu não estava ali. Havia voltado pra casa, pro meu quarto, pro livro... Tentando relacionar cada cena vista com trechos instigantes da obra. Vinham em minha mente frases marcantes como “Um único momento pode, retroativamente inundar de sentido uma vida inteira.” (Viktor Frankl) citada pelo Dr. Jacob ao analisar “Confissões de Schmidt”, protagonizado pelo maravilhoso Jack Nickolson. Outras cenas ainda me faziam questionar o momento de realizar uma catarse (algo que aprendi no livro) para aprender a lidar com minhas emoções proibidas, amadurecendo e civilizando meu comportamento.
    Só sei que se me perguntarem sobre o enredo do filme, talvez não saberia contar, mas sei exatamente em que pontos ele agiu tentando me persuadir. Aquele comportamento “naive” que outrora me tomava ao assistir um filme desaparecera e eu passara a agir como atriz principal reagindo ao que a película tentava me passar.
    Realmente o cinema parece mais vivo do que nossa própria vida, aqueles personagens não parecem viver só na ficção. Que poder detém nossa imaginação! Acredito que ao entender minha vida como na de um filme, descubro que ela é curta, pode ser emocionante, não precisa ser linear e pode ter vários finais felizes..
    Acho que vou ler o livro mais uma vez...

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  3. Olá Vanessa!

    Adorei o seu texto. Dei muitas gargalhadas ao lê-lo. Sabe, agora eu é que quero comprar esse livro do Dr. Jacob. Preciso compartilhar na fonte tudo isso que você explica no texto.
    É engraçado que na medida em que aprimoramos nossas leituras sobre o fazer cinematográfico, de fato nos tornamos assistentes mais exigentes da sétima arte. Na verdade, se aprende a ver filmes vendo-os. Inúmeros! O cinema precisa proporcionar prazer, mesmo que o seu efeito sobre nós seja intimidador ou toque em nossas mais sangrentas feridas. O cinema é uma arte que realmente melhora a vida das pessoas que fazem um bom uso dela.

    Abraço!

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